O hiato entre o ego e o espírito é inevitável. Parece impossível fechar esse abismo, já que o espírito e o ego são opostos totais.
Espiritualmente, nenhuma ação é mais importante do que a entrega. A entrega é o impulso mais terno do coração, agindo a partir do amor para dar o que quer que o amado deseje. A entrega é estar alerta para o que está acontecendo exatamente agora, sem impor expectativas do passado. A entrega é a fé no poder do amor de realizar qualquer coisa, até mesmo quando não se pode prever o resultado de uma situação.
Mas entregar-se ao ego de outra pessoa, mesmo que seja o ego de seu amor, não é um ato espiritual. Existe um significado mais profundo e místico para a entrega. No nível do ego, duas pessoas não podem deixar de querer a mesma coisa o tempo todo. O seu ego quer coisas materiais, conclusões previsíveis, continuidade, segurança e prerrogativa de estar certo quando os outros estão errados. Por definição, buscar essas metas leva a outra pessoa a se fechar, a menos que ela siga os “meus” planos ou que percebe que “eu” sou a pessoa importante aqui.
O seu espírito não está envolvido nessas preocupações. Ele quer ser, amor, liberdade e oportunidades criativas. Esse é um nível inteiramente novo de desejo, e quando você o alcança, pode partilhar a si mesmo com outra pessoa sem conflito. Essa partilha é o núcleo da entrega.
A maioria das pessoas é criada para buscar metas do ego, muitas vezes sem perguntas. A escolha de permanecer nesse nível está sempre aberta. Mas você também tem a escolha de seguir adiante até o plano do espírito, com suas metas bastante diferentes. O hiato entre o ego e o espírito é inevitável. Parece impossível fechar esse abismo, já que o espírito e o ego são opostos totais. Reuni-los é alcançado através da entrega, portanto, é a próxima fase da jornada do amor, que você adentra assim que escolhe estar num relacionamento.
A maioria das pessoas se encontra não no romance mas num relacionamento de longo termo, geralmente o casamento. Esta fase ocupa muito mais de nossa vida do que a paixão poderia fazer. Se apaixonar é uma breve abertura para o espírito, relacionamentos longos são o grande platô que vem em seguida – designaremos esse platô simplesmente por compromisso.
O compromisso é extremamente difícil para muitas pessoas e incontáveis motivos psicológicos foram dados para isso. Mas a dificuldade espiritual do compromisso é que joga o indivíduo diretamente no abismo entre o ego e o espírito. Cada pessoa leva para um casamento uma reunião complexa de necessidades do ego; o marido pode ser amoroso e gentil, mas seu ego exige que a vida se desdobre de acordo com certas expectativas e o mesmo pode ser verdade para a esposa. Um relacionamento baseado na necessidade não é amor. Ou os dois egos precisam viver numa trégua intranquila ou devem encontrar outra maneira – a entrega.
Durante a fase anterior do romance, havia uma sensação de ter sido escolhido, como se uma força irresistível houvesse invadido seu coração, mas no relacionamento o caminho para o amor não é automático. É preciso escolher, dia a dia, permanecer nele. Em vez de ver a entrega em termos de outra pessoa, devíamos chamá-la de entrega ao caminho. Portanto, as compreensões que surgem num relacionamento dedicado são ligadas ao caminho:
Você está num caminho único criado entre você e seu (sua) amado (a).
Você descobre o caminho não pensando, sentindo ou fazendo, mas se entregando.
A entrega revela os impulsos do espírito por trás da máscara do ego.
O caminho para o amor usa o relacionamento para tirar você de seu senso limitado de “eu” e “meu” para uma identidade expandida – esse é o crescimento do eu pra o Eu.
Fonte: Deepak Chopra
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